Oi! Prazer, Rodrigo.

Sou psicólogo clínico, cozinho, escrevo e viajo – por onde eu caminho para criar, “porque criar é, sobretudo, não morrer”. Então vou criando o desenho da minha história navegando nessas coisas onde encontro sentido, função e amor.
Sou psicólogo porque eu acho que nenhuma outra função nesse mundo vestiria tão bem a minha alma. Nesse trabalho, que é a arte do encontro, consegui contornar e dar um bom destino para a minha sensibilidade – e isso me salvou (porque a mesma sensibilidade que nos aguça, pode ser um precipício onde tropeçamos). Nada como conseguir dar um bom destino para quem somos. Hoje é uma honra poder escutar quem vem até mim trazendo suas histórias, nesse encontro que tenta construir possibilidades mais conscientes, criativas e livres de existir – chamamos esse encontro de psicoterapia.
Na cozinha eu sempre estive. Cresci assistindo as grandes mulheres da minha família na alquimia com suas grandes panelas, e fui inspirado por elas a fazer da cozinha o meu brinquedo naquele tempo – crianças brincam por vários motivos, entre eles para dissolver emoções e elaborar seu mundo interno. A cozinha era minha chance de fazer isso – ainda é: às vezes a gente cresce e continua brincando das mesmas coisas. Também encontrei na cozinha uma conexão com o mundo natural. Conciliei coisas na cozinha. Encontrei saídas na cozinha. Cozinhando eu fico perto do que preciso. Também aprendi, na cozinha, a apreciar o tempo e o valor da lentidão, do tempo que caminha sem correr.
Escrever também é um dos meus caminhos para respirar direito a vida. Escrevendo identifico e significo minhas experiências, conto melhor sobre mim e sobre o que vejo. Dar uma palavra para representar algo que vivemos ou sentimos é uma das coisas mais bonitas sobre a humanidade, pra mim. Eu realmente quero escrever pra sempre.
Antes eu viajava para encontrar um lugar. Nunca encontrei esse lugar viajando, porque estava dentro de mim e eu não conhecia muito bem a mim mesmo para saber disso. Agora que sei disso, continuo viajando, mas por outros motivos: para respirar o mundo e celebrar o milagre da diversidade do planeta.
Amo viajar para lugares com poucos traços de civilização, que não deixam claro em que ano da história eu estou. Também amo arte, psicanálise, Paris, carnaval, coisas latinas e vinhos. Gosto muito de coisas antigas, gosto muito de ABBA, Paul Simon e Gal, mas não gosto de pimenta-do-reino que já vem moída.
Odeio cama desarrumada. Quero ler mais sobre taoísmo. Sou apegado a detalhes, mas tenho aprendido a escolher os detalhes certos para me apegar . Adoro o cheiro de amanteigados assim que saem do forno e falo palavrão no trânsito. Gosto muito de gentilezas inesperadas, de filmes com a Cate Blanchett e de ver crianças emocionadas orgulhosas de si mesmas.
Julia Child me inspira muito. Madonna, Freud e Van Gogh também. Fico preocupado em cozinhar errado frutos do mar, mas não fico preocupado em molhar o pé na chuva. Acredito que acertar o ponto do crème brûlée pode promover um peculiar e inusitado sentimento de felicidade e perfeição. Amo sexta-feira.
Acredito que a coisa mais bonita que uma pessoa pode fazer nessa vida é ter a coragem de conhecer de perto a si mesma, se saber. Acredito que cozinhar é uma relação profunda de encontro com a natureza que fazemos parte, com nossa ancestralidade e com o nosso lugar no mundo. Acreditei em fadas até os 12, acredito na sensibilidade da mostarda e “que até mesmo as alcachofras têm coração“. Acredito.