22 de setembro. Primavera.

Eu gosto dessa foto. E o tempo que leva para aprendermos a gostar do que a gente consegue ser? Não gosto de mim todos os dias – e que loucura era achar que dava pra gostar. Mas acho que juntei uma quantidade boa de peças que perdi no caminho para conseguir gostar o suficiente, e tá ótimo. Umas peças faltam pra sempre. Hoje até gosto de algumas das minhas rachaduras – o movimento às vezes racha, mas toda beleza está depois do movimento. Melhor ir. E quem é um vaso inteiro que não falta uns pedaços? Tem inclusive quem diga que a gente só segue em frente porque falta alguma coisa. Diminuiu o medo de ficar sozinho – espaço é bonito pra dançar consigo mesmo a sua música de vez em quando. Ainda tenho medo de mariposas, ainda tenho medo de ser esquecido, mas agora enfrento alturas. O carnaval continua sendo importante.  Não gosto mais de negroni, não como antes. Acredito que pra sempre vou gostar de escutar pessoas. Vários pedaços de mim são as palavras das pessoas que escutei. Vários pedaços são as palavras que eu mesmo pari para me ver nascer. Fico criando alguma coisa todos os dias porque um pouco de mim é medo de morrer vazio. Um pouco de mim é aquela tarde de 1999 brincando numa cozinha de Jandira fingindo estar em Paris, e um pouco do meu nome é Gal. Eu ainda acredito que “sou feito da mesma matéria que compõe meus sonhos”. Eu gosto tanto dessa frase. Eu gosto de estar aqui. Também gosto muito de ser brasileiro. Às vezes escrevo alguma coisa sobre mim no meu aniversário, mas hoje reescrevi isso aqui, na noite de 22 de setembro mesmo, porque a palavra é um colo onde eu deito quando preciso. Também não deve ser só em um único dia que a gente nasce – e hoje começa a primavera. Nesse dia, me parece que todo mundo nasce um pouco.

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