
Em 2022 vi no Instagram uma foto dessas torres de Tallinn que me encantou muito. Salvei a foto. Em 2024, visitei Tallin e fui exatamente no lugar onde ela tinha sido tirada. Fiquei então tentando reproduzir aquela foto que tinha visto. Claro que não ficava igual, e quando uma boba e leve frustração começou a soprar no meu olhar, quando quase me perguntei “será que essa vista era tudo isso mesmo”, eu cai na real. Olhei pra minha foto, olhei pra vista diante de mim e, poxa, aquilo tudo estava incrível. Fiquei emocionado. Então consegui estar na minha foto, no meu pôr do sol em Tallinn, na minha história. Essa era a minha foto. E aquela foto que vi? Claro que era bonita, mas eu nem sabia se ela era uma foto de verdade, e mesmo que fosse, não era a minha verdade. A foto é simbólica, virou um lembrete.
Engraçado que a gente pode facilmente perder de vista uma beleza legítima, que é a nossa possível e está ali, na nossa frente, por querer reproduzir demais as coisas dos outros. Quão longo é o caminho até a gente aprender que nossa foto é suficientemente boa? Eu sei que não é tão fácil ver beleza na sua própria foto, a vida é complexa e pode dar trabalho se tornar consciente daquilo que é bom na gente, daquilo que é bom e é nosso. Mas tem caminhos para aprender a ver melhor e com amor suas próprias fotos, cenas, coisas. Mas não é mais de fotografias que estou falando. Espero que entenda.
Em uma sessão de terapia recente, minha terapeuta achou que fazia sentido me falar um trecho de um poema de Carlos Drummond de Andrade, o trecho era: “E eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé”. Nunca vou me esquecer dessa sessão, e dessa foto.

