Vanillekipferl (lua crescente de baunilha) – biscoitos amanteigados de amêndoas e avelãs.

Vanillekipferl – um biscoito de natal muito popular na Alemanha e na Áustria. Seu nome quer dizer algo como “lua crescente de baunilha”. A experiência delicada e acolhedora que uma mistura de manteiga, farinha, amendôas e baunilha é capaz de criar fez deles meus favoritos nessa vida. Me traz algum aconhego esperançoso comer eles. Não tô querendo dizer que biscoitos são capazes de me comover assim profundamente.
Na verdade eu acho que tô sim.

Depois da tarte tatin, esses biscoitos são minha delicadeza preferida de natal. Faz uns 4 anos que no dia 23/12, à noite, junto os ingredientes e construo essa massa com a minha mão. Daí vou dormir e a massa fica descansando na geladeira. Quando acordo dia 24, vou assá-los e minha manhã de véspera de natal tem esse perfume – e eu gosto de memórias que tem perfumes amanteigados.

Fiquei pensando agora porque faço isso, e talvez seja só porque eles são bons mesmo, mas sei também que unir coisas que antes estavam desconectadas e formar uma massa única que vai ser assada e transformada em algo bom, é um processo que apazigua algo em mim – pequenos rituais simbólicos que inventamos pra curar aquilo que nem lembramos mais o que. Acho que não faço mais biscoitos pelos mesmos motivos do passado, mas ainda assim vou pra sempre fazê-los. Tem coisa que a gente repete, repete, repete… até repetir diferente.

Ingredientes:

  • 50g de farinha de amêndoa
  • 50g de farinha de avelã
  • 280g de farinha de trigo
  • 100g  de açúcar
  • 200g de manteiga gelada sem sal, cortada em cubos pequenos
  • 2 gemas
  • 1 pitada de sal
  • 3 colheres de chá de extrato de baunilha

Em uma noite de sua vida, separe um tempo e junte todos esses ingredientes numa tigela. Vá apertando/ desfazendo os cubinhos de manteiga nas farinhas com as pontas dos dedos, como fazendo uma farofa, até tudo ir se unindo. Não amasse muito, só o suficiente pra unir tudo e incorporar a manteiga – tudo que é pra ser crocante não deve ser mexido demais. Forme uma bola firme com toda a massa. Envolva essa bola com plástico filme e deixe na geladeira, para que durma lá (pode ser 2 horas só de descanso, mas 1 noite fica melhor – sempre que esperarmos o tempo das coisas ficarem prontas elas terão gostos e formas melhores. Tem uma beleza na espera e na lentidão – uma hora a gente aprende.


No dia seguinte, tire a massa da geladeira uns 15 minutos antes de manusear. Pegue pequenos pedaços (estará dura, pode ser cortando com uma faca) e faça formas de meia lua – é um formato místico bonito para biscoitos, sempre achei. Asse em forno pré-aquecido à 180 graus, até quase dourar, até as laterais começarem a mudar de cor , o que costuma levar uns 15/ 20 minutos (eles não são de dourar muito e isso é outra delicadeza sobre eles). No que você pensa enquanto seus biscoitos estão assando e o perfume começa a nascer? Eu penso em muitas coisas diferentes, mas muitas vezes penso que é valioso estar ali, vivo e em paz o suficiente pra sentir e apreciar o cheiro de biscoitos assando. Mas às vezes não penso em nada, só lavo a louça mesmo enquanto espero.

Quando tirar do forno eles estarão ainda meio moles e sensíveis. Espere uns 3 minutos, tire com cuidado da fôrma, com ajuda de um garfo e, ainda morno, passe eles um por um em uma mistura de: açúcar baunilhado com açúcar de confeiteiro (se você não tem açúcar baunilhado, você pode fazer o seu misturando açúcar com alguma forma de baunilha seca (em pó, favas secas trituradas, etc) e deixando num pote fechado 2 dias, ou 2 anos, para o açúcar ficar perfumado). Se não tiver açúcar baunilhado, tudo bem, use o que tiver.

Sente num canto que você goste, coloque uma música que seja gentil pra você e faça um chá suave – tudo para viver direito a delicadeza dos biscoitos. Durante as mordidas prazerosas preste atenção, porque tem uma sensação bonita pra prestar atenção.

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