Dia de los muertos – a mesa é onde nos encontramos.

Quais caminhos pra manter uma relação boa com alguém que morreu? Tantos. O meu favorito é através da comida. Tia Ana, uma das grandes mulheres que cuidaram de mim, foi a primeira pessoa realmente próxima à mim que morreu, e depois de um tempo entendi que a mesa da refeição seria onde mais iriamos nos encontrar dali pra frente. Por exemplo: não é possível que eu sente numa mesa pra comer caldo de mocotó com farinha sem que ela se sente ali comigo, pra que possamos lembrar juntos de quando ela fazia caldo de mocotó pra vender no bar dela e eu ficava lá, escorado no balcão assistindo todas etapas do preparo, cantado Tião Carreiro e Pardinho com ela, esperando feliz da vida o primeiro copo do caldo pronto. As manhãs feitas disso eram mágicas pra mim. Uma parte da energia vital dela ficou gravada em mim através dessas cenas que vivemos juntos, e o caldo de mocotó funciona como um guardião de uma parte dela que eu acesso, quando eu quero. Morrer aqui é ter sua presença transformada? Cabe a nós entender quais tipos de portas/marcas nos levam até uma energia que segue sendo e afetando a gente de outras maneiras?

Eu amo sentar pra comer com meus ancestrais. Um prato de comida é meu tipo de portal preferido. No fundo, eu acho que tem uma delicadeza bonita no dia dos mortos – um dia que eu lembro de conectar a palavra “morte” mais à palavra “transformação” do que à palavra “encerramento”.

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