
Todo dia 24/12 quando levanto, me arrumo e vou pra cozinha, em partes sou eu de agora, em partes é o menino de 10 anos que nunca vai deixar de criar histórias (e cuidar de elaborar um pouco da sua própria história) na cozinha. Entre uma panela e outra, eu esbarro o dia inteiro nesse menino e ele me enche de alegria – no fundo acho que é por ele que eu cozinho há tantos anos. Ele sempre precisou da cozinha para encontrar suavidade e amor. Nesse dia, esbarro também nas imagens mais felizes que tenho das minhas tias, esbarro nos momentos onde eu podia ver minha mãe animada temperando coisas, sem preocupações. Esbarro na criatividade e propósito amoroso, seja com muito ou pouco ingrediente. Esbarro em memórias desses dias onde toda dificuldade ficava de lado um pouco, pra gente se conectar em paz através de uma refeição e sentir o que valia muito a pena ser sentido.
Não fui uma criança que teve muita chance de acreditar em papai Noel, mas não fez falta – porque eu sempre acreditei na cozinha. Ela sempre foi meu presente mais importante, meu refúgio. Uma pessoa que me segue aqui comentou outro dia em uma postagem dizendo: as coisas que a gente gosta vão salvando a gente, um pouco por vez. É isso. Feliz Natal. Que nunca nos faltem refúgios e criatividade.
