No prato, a história dos que vieram antes de mim.

Pirão, arroz e frango cozido em um caldo profundo com abóbora e cenoura. Quantas vezes comemos pelos nossos ancestrais? Quantas refeições são nosso sinal de pertencimento à uma história que não começou nem vai terminar com a gente? Quando o cheiro de cominho transborda da minha panela viva, eu sei bem onde estou. Quando a farinha cai no caldo de frango pra virar pirão, eu sei bem onde estou. Estou ali, de algum modo diante dos meus ancestrais, no traçado de um povo que também sou eu. A galinha cozida e o pirão da mesma galinha que fiz aí nesse prato, aprendi com minha mãe, que por sua vez aprendeu a cozinhar animais com minha avó – em um tempo e espaço onde a galinha que ia para a panela era criada no quintal do lado da cozinha onde era cozida. Pra quem via o bicho nascer e crescer, cozinhar ele era coisa importante – a galinha na panela era motivo de reunião, encontro, partilha, quase um ritual. Porque hoje, tão longe da cozinha no sudoeste baiano de minha avó, eu fico feliz e acho especial fazer frango cozido e pirão? Porque sinto carinho por cominho desse jeito? Porque comer é isso, é visitar outros cantos que pariram um pouco do que a gente é. Toda panela é uma história.

Deixe um comentário