Os umbus que meus parentes trazem nas malas

Umbu – desde sempre, nas viagens que minha família faz pra Bahia, vem um tanto de umbu na mala, onde a mão que arrasta a mala é a mesma mão que colheu eles do umbuzeiro. Esses vieram essa semana do sertão baiano, minha mãe que trouxe. A bagagem de quem fez no passado a travessia do nordeste para São Paulo é atemporal e simbólica, nela sempre foi preciso ter de algum modo uns punhados da história de onde se vem – nunca foi apenas sobre as porções de umbu, requeijão, biscoito de polvilho ou cominho nessas malas, mas sobre a importância simbólica desses alimentos e quais histórias eles guardam e conservam. Agora o Umbu tem algo de muito especial: de onde minha mãe vem, subir no umbuzeiro, pegar umbus e comer descansando na sua sombra importante (diante do sol intenso) é quase um ritual. É uma árvore sagrada do sertão seco, símbolo de resistência. Ela precisa de muito pouco para florescer e revelar sua vitalidade verde. Conserva água em sua raiz, podendo chegar a armazenar até mil litros. Também produz uma batata que, em época de grande estiagem, é utilizada como alimento. O umbuzeiro é simbólico, ele é o nordeste e sua persistência criativa de vida em forma de árvore. As fotos abaixo foram de quando fiz a minha subida em um umbuzeiro, no sertão baiano berço da minha ancestralidade. Foi tão especial fazer isso, foi como pegar na mão dos meus antepassados e estar mais consciente das histórias que vieram antes de mim e possibilitaram a minha. Foi ver onde nascia a história e simbolismo do umbus que eu vi a vida toda chegar nas malas da minha mãe, tios e tias. Os alimentos são energia, memória, uma revelação simbólica de um povo e de um lugar – desde sempre.

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