25 12 2022 – natal e suas artesanias afetivas.

Gostar tanto desse dia deve ter a ver com tudo que ele junta, me faz lembrar. Cresci gostando de Natal até um dia não ser mais possível gostar – era um adolescente se dando conta de sua natureza e do formato de família que ele poderia formar, e não ensinaram para ele que essa forma de família cabia nessa celebração – como em tantas outras tradições. Até eu aprender que cabe sim, que na verdade quando é sobre amor autêntico cabe perfeitamente. Uma hora tudo fica mais claro e o Natal voltou a ser bonito e possível para a minha família – na real sempre foi, eu só precisei aprender o que não me ensinaram antes, e que eu precisaria construir meu sentido particular entorno dessa data amorosa. Fizemos aqui um Natal muito lindo, eu amo tanto vocês 2.

No Natal eu também passo um dia todo na cozinha, vasculhando as gavetas das minhas memórias mais valiosas pra construir uma mesa que conta muitas histórias. Conta da minha mãe e do jeito que ela me ensinou a amar as pessoas: cozinhando, cuidando e disponibilizando tempo para elas. Na hora de arrumar a mesa quem eu encontro é a Tia Ana – ela amava arrumar mesas lindas, algumas pessoas achavam ela exagerada, eu achava mágico o tanto de detalhes das mesas dela, ficava tão animado com isso. Acho que ela elaborava um pouco a dureza da vida construindo mesas generosas e delicadas. Arrumar uma mesa com cuidado pra mim é encontrar Tia Ana de um jeito tão bonito, nos cantos de mim mesmo, ainda que hoje ela fisicamente não esteja mais aqui, ela está.

Tem mais coisas que o Natal movimenta. Renascer, agradecer, a energia coletiva intensa que induz a gente a conexão com o outro, à sentir o belo… mas ontem acho que foi mais sobre isso: estar em paz em casa com minha família, com meu caminho e com minhas memórias. Feliz Natal – que é uma data que às vezes a gente tem que aprender a construir pra ela caber na gente, e não a gente caber naquela história que nos contaram sobre ela.

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